1. |
Graça
07:18
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Por você
A canção não vai morrer
O serão não vai cansar
O minguante vai crescer
A visão vai se desdobrar
Se alumbrar e ver
A promessa madrugar
A bonança amanhecer
Vai ter pomo no pomar
Vai ter sumo no prazer
Não vão parar de aparecer
Sete estrelas de guiar
Sete dias de viver
Pois o mal já não terá poder
Coração vai se regenerar
Toda gente vai se bem querer
E o meu filho nascerá
Por você
A canção não vai morrer
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2. |
Mar de minha mãe
05:24
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Eu tou
No mar de minha mãe
Muito no fundo
Eu sou
Do mar de minha mãe
Mais que do mundo
Eu vou
No mar me despojar
De minha pessoa
Eu tou
Do seio de Iemanjá
Odoya
Seio de Iemanjá
Odoya
O amor
Do sol por minha mãe
Fez lua cheia
A dor
Do mundo em minha mãe
Virou areia
Eu tou
Pra além de desejar
Minha alegria
Eu vou
Nas ondas de Iemanjá
Odoya
Ondas de Iemanjá
Odoya
Dou de cirandar com as ondinas
No vasto azul-maravilha
De oceanias e antilhas
Dou de raiar o dia nas índias
Adormecer em Madagascar
E sonhar em Zozilhar
Dou de vazar em água de rio
Em cachoeiras - ora iê iê ô -
Que o rio é também mar
Dou de fluir, senhora me guia
Senhora manda, eu volto pro mar da Bahia
Bahia
Eu tou
No mar de minha mãe
Muito quieto
Eu tou
No mar de minha mãe
Que nem um feto
Agô!
É o sol que vem beijar
Minha Senhora
O sol
Do dia de Iemanjá
Odoya
Dia de Iemanjá
Odoya
Lá vêm cirandando as ondinas
De oceanias e antilhas
Lá vêm as ninfas te saudar
Lá vêm dúzias de deusas das índias
Lá vêm Caribe e Cila
Sereias sibilas da Grécia
- Ora iê iê ô - quem se anuncia?
Oxum deságua e saúda a mãe
Pois o rio é bem do mar
Eis o homem que as águas palmilha
Senhora sabe que ele nasceu na Bahia
Bahia, Bahia, Bahia
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3. |
Candeeiro, mariposa
05:04
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Eu tou aqui - ói lá
Eu tou aqui - ói lá
Onde nenhum galo canta
Onde nenhum homem ri
Eu tou aqui - ói
Candeeiro, mariposa
E a gira da madrugada
Quando a curimba ressoa
Nos quatro cantos da casa
Mariposa, candeeiro
E o jogo do barravento
Falange vem num cortejo
Pra ver o Cristo nascendo
Dica de Quelé
Figa de Guiné
Rumo na maré
Catimba de mané
Taba de pajé
Aba de boné
Zanga de banzé
Cacimba de coité
Galo já cantou
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4. |
Mães
03:08
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Depois de tudo sairão do chão
Mães amazonas, negras aiabás
No seio o leite da ressurreição
No ventre o sêmen dos tupinambás
Depois do império do Norte ter sido em vão
Depois de tropas, ruínas ocidentais
Depois que o mar cair na goela do sertão
E que o sertão cair nos mares abissais
Depois de tudo sairão do chão
Icamiabas, iracemas, iás
Na língua o líquen da revelação
No corpo aceso e bonito o espírito são
Do amor e da paz
Depois de tudo sairão do chão
Mães amazonas, negras aiabás
No seio o leite da ressurreição
No ventre o sêmen dos iorubás
Depois do Islã, derradeira religião
Depois de China e Eurásia descomunais
Depois que o mar cair na goela do sertão
E que o sertão cair nos mares abissais
Depois de tudo sairão do chão
Icamiabas, iracemas, iás
Na língua o líquen da revelação
No corpo aceso e bonito o espírito são
Do amor e da paz
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5. |
E a galera ria
03:30
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Você tava o tempo todo aí
Meio diluído na galera
Não era
Representante de classe
Seguia quem liderasse
E se alguém lhe batia
A galera ria
Você tava todo dia aí
Meio camuflado pelo bando
E quando
Um índio foi calcinado
E arrasaram Eldorado
Seu bando andou zombando
Você foi metabolizando
O chiste, a covardia
E a galera ria
Você tava o tempo todo aí
Invisível de tão evidente
Na mente
Parece que tinha trava
Pois jamais se conformava
Com o que não entendia
Se a galera ia
Você ia junto por aí
Dar porrada em travesti na praça
De graça
Talvez por divertimento
Talvez por justiçamento
Pra sanear a raça
Você foi criando couraça
Nalguma academia
E a galera ria
Você tava o tempo todo aí
Com anonimato de internauta
Na malta
Dos avatares da injúria
Xingando com a maior fúria
Que a rede permitia
E a galera lia
E demolia o mundo por ali
Pois, nem bem saíram de seus guetos
Os pretos e bichas e feministas,
O asco por tais conquistas
Juntou avós e netos
Politicamente incorretos
Na mesma baixaria
Sua família ria
Você tava o tempo todo aí
Meio ruminando na manada
Do nada
O gado estourou nas ruas
Com milicos e peruas
Varados de euforia
E a galera ia
Em coreografia por aí
A favor de bala e de cabresto
“Honesto”
Você foi fazer história
Com essa turba meritória
E decorou seu texto
Quebrou placa no protesto
Tomou o espumante da tia
Zombou da pandemia
Cansou da democracia
Que tanto lhe oprimia
E a galera ria
E a galera ria
Você tava o tempo todo aí
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6. |
Chega de retranca
04:28
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”(…) desse momento para diante não é o trabalho que valerá mais no mundo, mas sim o jogo; não é o cálculo que levará a palma, mas sim a fantasia; não é a chamada realidade que manietará o sonho, mas sim o sonho que subjugará o real.” (AGOSTINHO DA SILVA)
Conduz o coro
Levanta o povo
Ateia fogo
Eis a conclamação
Foi Nação que me chamou
Da concentração
Chega de retranca
Eis a conflagração
Foi Nação que chamejou
Na conjuração
Da bandeira branca
Alquimista, arlequim, monge errante
Adiante, adiante
Pajé, médium clarividente
Vamo em frente, vamo em frente
No reino do Pai o Filho tarda
Santo Espírito aguardou
Mas chegou sua hora
Ajayo!
Nossa Senhora
Conduz o coro
Eis a conclamação
Foi Nação que me chamou
Da concentração
Chega de retranca
Eis a conflagração
Foi Nação que chamejou
Na conjuração
Da bandeira branca
Bruxa, babalorixá, mendigo
Vou contigo, vem comigo
Dervixe, vestal, velho aedo
Vou sem medo, vem sem medo
Que o templo do Pai tem mil moradas
Onde a gente amadurou
Mas chegou nossa hora
Ajayo!
Nossa Senhora
Levanta o povo
Quero ver
A galera ensolarar
Quero ter
Coração ligeiro
Quero ser
Grão de elétron, célula
Na vibração dessa egrégora
Nosso cordão não segregará
Nossa canção não arrega
Eis a congregação
Que a Nação xamanizou
Pra coroação
Da solar criança
Ralé que alumiou corpo e alma
Bate palma, bate palma
Tribo que zerou vida e morte
Canta forte
Que os homens do Pai batizam n’água
Mas o Filho inaugurou
As clareiras do agora
Ajayo!
Chegou a hora
Ateia fogo
Quero ver
A galera ensolarar
Quero ter
Coração ligeiro
Quero ser
Grão de elétron, célula
Na vibração dessa egrégora
Nosso cordão não segregará
Nossa canção não arrega
Quero ver
A cidade fulgurar
Quero ter
Coração inteiro
Pra caber
A transeletrindade
Que tá pra nascer
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7. |
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“Uma rainha do Sul será levantada no juízo” (LUCAS, 11, 31)
“A rainha de Sabá
Casou-se com o rei Salomão
Originando a mista raça
São raizes do Sudão
A cultura sudanesa
Pelo mundo se espalhou
Fons, dogons, sererês, hauçás
Mossis, mandingas, ibôs, iorubás”*
A rainha de Sabá
Veio do Levante Sul
E namorou bastante o rei
E o rei foi Salomão
O rei foi Salomão
O fruto da união
Do casal enamorado
Foi, como disse o Olodum,
O povo do Sudão
O povo do Sudão
A volta da rainha
Sol do meio-dia
Quero ver
Em volta da rainha
Choro e alegria
Quero ver
Quero ver
Os norte-ocidentais
Reis da bomba e dos embargos
Pensam que sabem mais que o rei
E o rei foi Salomão
O rei foi Salomão
A rainha de Sabá
Tá no Congo ou no Zimbábue
Ou tá na América do Sul
Lá dentro do sertão
Lá dentro do sertão
A volta da rainha
Sol do meio-dia
Quero ver
Em volta da rainha
Choro e alegria
Quero ver
Na volta da rainha
Diz a profecia
Cai a tirania
Quero ver
Quero ver
Quebra a crista do Setentrião
Tá na hora
Quero ver quando Zumbi chegar
Quero ver, quero ver, quero ver
*tema incidental: “Olodum Ologbom” (Lazinho/Tita Lopes)
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8. |
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“Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem” (OSWALD DE ANDRADE)
Na terceira década do século XXI
Quando o Brasil estava quase devastado
Surgiu do fundo da mata uma tribo sem elo nenhum
Com o tal do mundo civilizado
Montados em animais miraculosos
Armados com arcos e flechas transcendentes
As índias e os índios deixaram por onde passaram
Os rastros da justiça com a qual sonhava tanto
Toda nossa gente
Primeiro os arcos se dilataram
E as flechas pulverizaram
Os madeireiros ilegais inimigos dos seringais
Depois miraram nos mineradores
E nos barões monocultores
Predadores dos bichos e frutos e mananciais
E quando entraram nas cidades
Cometeram as mais belas barbaridades
Sopraram mil zarabatanas
Nas passeatas insanas
Tragicomédia da classe média
Pedindo golpe, intervenção
Pois então
Os índios intervieram
E sentaram o tacape no seu capitão
Tá pra nascer
Capitão que proíba
A história da Revolução Caraíba
No coração do Rio de Janeiro
Os heróis foram ligeiro a um paradeiro
Paramilitar pra lá da Zona Oeste
E arrasaram feito a peste
A gangue do cafajeste
Que brincou de faroeste contra o povo brasileiro
A história nos ensina e cantamos aqui
Que os reis da carnificina precisam cair
Vem, hoje é carnaval
Vamos celebrar o caraíba
E a guerra triunfal
Que nos tirou da pindaíba
Os quatrocentões de São Paulo
Os índios sacudiram dentro do Rio Tietê
Os supremacistas de Santa Catarina
Eles escalpelaram mas se recusaram a comer
Os representantes do capital na capital
Eles capturaram e enterraram vivos lá em Bacurau
Mas quem diria
Que a tribo não catequizada
Filha da terra mais sagrada
Que jamais soubera nada
Do Deus das colonizações
Seguiria seu exemplo
Expulsando de seu templo
Todos os vendilhões?
A grande mídia
Vinha perdendo a audiência
E precisava com urgência
Desbancar a concorrência
Pra vender comercial
Nada mal
Pois a tribo vingadora
Invadiu a emissora
Na hora do telejornal
Tá pra nascer
Editor que proíba
A história da Revolução Caraíba
Todos os olhos do mundo
Miraram nosso estandarte
E no top de um segundo
Abalou-se o baluarte
Da civilização
Ficou lavrado nas atas
Promulgou-se em toda parte
Que os últimos magnatas
Deveriam ir pra Marte
Ou terminar na prisão
E depois da pajelança
Acabou-se o fim do mundo
E todos os povos entraram na dança
Vem, hoje é carnaval
Vamos celebrar o caraíba
E a guerra triunfal
Que nos tirou da pindaíba
Na terceira década do século XXI
Quando o Brasil estava quase devastado
Surgiu do fundo da mata uma tribo sem elo nenhum
Com o tal do mundo civilizado
Blindados por anticorpos gloriosos
Vestidos com a pluma das aves resplandecentes
As índias e os índios deixaram por onde passaram
Sementes da saúde com a qual sonhava tanto
Toda nossa gente
Primeiro os arcos se dilataram
E as flechas pulverizaram
Os madeireiros ilegais inimigos dos seringais
Depois miraram nos mineradores
E nos barões monocultores
Predadores dos bichos e frutos e mananciais
E quando entraram nas cidades
Cometeram as mais belas barbaridades
Sopraram mil zarabatanas
Nas passeatas insanas
Tragicomédia da classe média
Pedindo golpe, intervenção
Pois então
Os índios intervieram
E sentaram o tacape no seu capitão!
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Thiago Amud Rio De Janeiro, Brazil
Thiago Amud is a composer, singer, arranger, and guitarist.
He has launched the albums Sacradança, De ponta a ponta tudo
é praia-palma (From tip to tip it’s all beaches and palm trees), O cinema que o sol não apaga (The cinema that the sun doesn’t erase), and São.
According to Caetano Veloso, “Thiago Amud is a phenomenon in the realm of expressive musical media."
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